Curta-Metragem

Em um futuro estranhamente familiar…

Em um contexto em que nossas atenções dificilmente divergem de telas, o breve filme "QWERTY" pensa a nossa atual condição a partir de um peixe solitário em seu aquário cubóide, nas entranhas de um complexo de operações secretas. Suas únicas companhias são as tentaculares interfaces de um supercomputador, seus sons dissonantes, ruídos de exaustores e de dutos de aclimatação. O aquário de ângulos retos e superfícies espelhadas é tudo o que imediatamente se conhece, assim como as ficções repetitivas que lhe chegam em loop.

Por 2 min. de ritmo intenso, "QWERTY" submerge numa profusão desvairada de conteúdos administrados via telas, com cenas que rotacionam sem sair do lugar, até ter sua progressão frustrada pela fala escorregadiça do peixe — traduzida para o nosso sistema de linguagem. Se o loop de ficções asfixiantes é de difícil interrupção, necessário seria, então, desregular essa “máquina rígida e nutricional” de dentro, a partir de outras cenas e inteligências; um loop de contra-ficções, capazes de fazer micro-vibrar a habitual estrutura diagramática dos frames e emergir novas e estranhas angulações.

Para a produção do filme, 100% faz uso de recursos digitais 3D, como no caso dos seres humanos avatarizados — criados em sistemas de modelação de personagens de jogos online —, bem como desenvolve dispositivos para a realização efeitos práticos, montando esquemas de refração com luzes e espelhos d’água, havendo boa parte do filme sido gravada em um aquário girando a 45 RPM.

“QWERTY” integrou o TCC da designer pesquisadora Carolina Brandão Lobato ("DESV.io: uso contemporâneo das imagens em mídias digitais, reflexão e apropriação tecnológica") e foi exibido na ocasião de defesa de seu trabalho final em julho de 2024 (Graduação de Design de Produtos e Serviço, IED-SP). À época, a designer comissionou uma obra audiovisual inédita de 100%, e, durante o processo de elaboração do filme, compartilhou com a dupla um arquivo digital com algumas centenas de imagens curadas da internet, cujo scroll sem fim enredou a concepção de “QWERTY”.